quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Inominado

E é tanto do meu eu que é seu que me procuro em mim e me perco. Só volto a me encontrar ali, tão fora de mim, tão dentro dos seus olhos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Encaminhe.


Diante dos teus olhos,
perdida.
Atrás de mim caminhos tortuosos, escuros.
Jamais saberei como cheguei aqui.
Jamais saberei como voltar,
não sei sequer onde estava.
Não importa.
Dentro ou fora de minha cabeça (a sensação de embriaguez não me deixa saber)
vejo seus olhos.
E eles me pedem, ou melhor, eles suplicam por algo.
Algo que eu sei que não posso te dar.
Retorno o olhar.
Como num último lampejo de esperança tento te prender
em minhas retinas, em minha memória, em mim.
Luz forte me cega e fascina,
atordoa e amedronta,
eu, perdida, quero te prender.
Não sei onde estou, pra onde vou, de onde vim,
mas te quero comigo em quaisquer desses lugares.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Samba de Corpo

Queria um coração bumbo
para marcar num compasso firme, 4/4, num só tom,
toda a minha vida.
Doce ilusão.
Nasci com um coração pandeiro, esse danado.
Se por um instante vacilo, já toca em dissonante...
E como soa diferente...
A cada toque em seu couro descubro um novo tom.
Tão difícil de manusear esse coração pandeiro...
Mas vou aprendendo, um dia entendo todos os sons que ele pode emitir
e levo a vida em partido alto, num samba de corpo, assim,
tão dentro de mim,
que só eu poderei escutar...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Etc e tal... Ou o que vier primeiro.

E eu, que sempre quis o dom do discernimento,
me pego torcendo pelo acaso...
Não queria ter nas mãos decisão mais delicada.
Me posiciono sobre a linha tênue do certo/errado
esperando algum vento soprar mais forte e me pender para um dos lados.
Só queria alguém para culpar pelos meus possíveis erros.
Dividiria até a glória pelas escolhas mais acertadas, tamanho o medo do equívoco.
Pois é, consciência... Nesse mormaço não tem vento certo.
Somos só eu, você e a indecisão.
Essa danada que me pesa nos ombros
e me impede de dar qualquer passo torto ou direito.
Só nós.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Açúcar, afeto e outros vícios

Traí-me.
E fiz disso recorrente.
Como o calhorda arrependido prometo ser a última.
Como esposa submissa aceito esperançosa as minhas desculpas.
Fiz disso recorrente,
um ciclo vicioso de promessas quebradas, meu coração partido e repartido.
Olhos mel, olhos terra, olhos mar, olhos meus.
E tudo assim, ao meu ver, exatamente simples,
ternamente cabível.
E inconcebível.
Perdão viciado.
Prometi não mais prometer-me.
Aceito, por fim, a dupla condição de calhorda e submissa.
Fecho os olhos e preparo, com açúcar e com afeto, aquele doce,
aquele para tentar me segurar em casa...
Mas qual, o quê?!
Só hei de prová-lo quando voltar, pronta para pedir novamente as minhas
tão sinceras quanto recorrentes desculpas.

domingo, 16 de outubro de 2011

Marrom.

Castanhas. Brincam, desenvoltas, em volta das pupilas, as iris.
E tudo gira, então, desde que entrei naquela brincadeira.
Castanhos. Castanhos e ondulados. Como um mar de marrom num dia frio.
Os fios emaranham-se em desarranjos quase líricos.
E tudo se perde, então, desde que escutei aquela música.
Um brilho juvenil açoita-me o juízo,
penitência para uma vida desregrada, pobre de mim.
Autoflagelação desnecessária... Aquela que abandonara tempos atrás.
Risco, acendo, olho.
E o circo enfim começa a queimar.
Numa frase incerta a consolidação do maior medo.
Numa resposta certa, a certeza do engano inicial.
Mergulho, sem frio, no mar de marrom.
Girando e perdida.
Encaro as castanhas iris em busca de respostas (ou das perguntas certas, será?)
para talvez descobrir, por fim, como pude entrar
e como sair incólume desta tão arriscada quanto deliciosa brincadeira.
Enquanto caminho sem as respostas ou perguntas certeiras,
vou me enchendo de castanhos,
me perdendo nos castanhos.
Um dia, quem sabe, eu me encontre novamente, ou não.

domingo, 2 de outubro de 2011

Arritmia

De ferro; de fardo; de fato
refaço meus passos, passeio co[mum do] mundano.
De aço meu laço, te caço.
Tamanha insutileza do carinho do desamor mais bonito.
E ainda acho que encaixo um verso sem rima
(poeta de dentro não vê desarranjo fora).
Mas aquela mulata que ginga um gingado,
daqueles que se aprende no balanço dos tumbeiros;
ritmicamente desconsertante, concertante até;
só pede um pouco mais de canto,
pro encanto do meu pranto,
esse do laço de aço, não parecer desafinado.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A his[es]tória de Clarissa (um desromance inventivo, ou não.)

Sabe aqueles momentos em que você está só, em casa, fazendo algo tão mecânico que sua atenção está toda voltada para dentro de si? Algumas vezes, quando nestas situações, me vejo pensando em histórias e pessoas que de tão reais e detalhadas não consigo distinguir se verdade ou invenção. Foi assim com essa história de Clarissa:

A incrível habilidade com pessoas era o que melhor definia Clarissa, que, em seus 14 anos e meio (como gostava de ressaltar), conseguia delas tudo que queria, sem precisar de muito esforço. Descobrira bem cedo que tinha um full house nas mãos. Olhos manhosos, uma voz doce, cara de vítima e duas palavras: "Não precisa". PIMBA! Lá estava a pequena Clarissa vendo se consolidarem todos os seus caprichos. Aquelas 5 cartas eram praticamente invencíveis. As duas palavras eram os ases da psicologia reversa criada por Clarissa para convencer as pessoas, era o blefe antes de baixar seu full house, e todos apostavam as fichas, e perdiam. E Clarissa levava sempre o prêmio máximo. Foi assim com aquela boneca que fazia xixi, e que seus pais não tinham condições de comprar, a qual uma semana depois estava de cabelos cortados e sem uma perna no fundo do baú. Da mesma forma ocorreu com a bicicleta que Dona Maria (a babá) levou de presente para a sobrinha depois de ver a pobre coitada parada por meses após a primeira queda feia.

-Pequena dissimulada! - diriam as senhoras acompanhantes fervorosas das telenovelas das 20hs. -Diamante BRUTO! - responderiam os marqueteiros mais sagazes. Clarissa; que não sabia ainda (nem se importava em saber) a diferença entre simular e dissimular, tampouco vislumbrava algum cargo político; só queria mesmo era ficar na internet até mais tarde, conseguir aqueles pontinhos extras com os professores e dormir toda sexta na casa da Marcinha, sua melhor amiga daquele ano (os pais da Marcinha eram o máximo: elas podiam ficar com a porta fechada enquanto falavam dos meninos mais velhos até tarde que eles nem se importavam. PORTA FECHADA, que sonho!).


O que ninguém sabia, nem mesmo a Marcinha, era que Clarissa tinha uma fraqueza, uma fraqueza de nome Gilmar, a quem todos chamavam de Gil. Era diferente de todos os meninos-estereótipos que haviam na escola. Sim, a escola é formada de pessoas-padrão, que agem como robozinhos. Tem aqueles que só estudam, os que só brincam, os que só conversam e tiram notas boas, os que só conversam e sempre estão de recuperação, aqueles que são amigos de todos, os que não tem amigos, e o Gil. Ele não conversava muito, tirava notas medianas, tinha alguns bons amigos, fazia poucas recuperações e sorria AQUELE sorriso. O sorriso que fazia Clarissa mostrar suas cartas antes da hora, se atrapalhar no embaralhar, piscar no blefe e perder a compostura. E aí tudo dava errado quando estava perto dele, nunca conseguia o que queria do Gil, nem das outras pessoas, caso a aproximação com ele fosse o suficiente para que ela, em sua visão periférica, desconfiasse que ele a estava olhando. E aquilo vinha consumindo Clarissa desde a terceira série. Já havia experimentado odiá-lo - ele ignorou. Ignorá-lo - ele sorria. Sorrir - ele estranhava. No momento estava amando-o. Ainda não sabia bem o que isso significava, só sabia que era um pouco mais complicado. Dessa vez o mundo não se restringia a ela e Gil. Tudo agora envolvia qualquer menina para quem o sorriso mágico derretedor de mentes se dirigia. Ela odiava todas. Ela odiava ainda mais as que sorriam de volta. E era triste odiar. Nunca havia odiado ninguém antes, além do próprio Gil e da Ana (mas a Ana é irmã, e irmã não conta.) 


Naquela sexta ela estava especialmente mal-humorada, odiando com todas as suas forças a Priscilla por ter feito aquele trabalho em dupla com o Gil, e ter ficado os 50 minutos da aula ao lado dele com conversinhas no pé do ouvido. - Quem ela pensava que era? - se perguntava incrédula. Foi então que Marcinha, que até então estivera curiosamente calada, se manifestou: 

-Hoje não vai dar pra você ir lá para casa.
-Como assim??? - Perguntou, num tom mais ríspido que o normal, Clarissa
-É que eu marquei de estudar com o Gilmar e...
-VOCÊ O QUÊ?? - Não esperou sequer a resposta e partiu.

Estava deitada em seu quarto, chorando baixinho, com a porta aberta (mais do que nunca desejava os pais da Marcinha, que sonho aquela porta fechadinha...), quando teve uma epifania. Deveria falar para Gil o que estava sentindo. Ele precisava saber. Ele tinha que saber. Tentou ligar - desistiu no primeiro sinal de chamada. Decidiu escrever uma carta - cansou na 5ª tentativa. Pensou em mandar um e-mail - achou que seria muito insensível. Então resolveu que seria pessoalmente. Falaria na segunda mesmo. E aquele foi o final de semana mais longo e angustiante da vida de Clarissa. Sem Marcinha tudo parecia passar mais devagar. Prometeu que não iria atender os telefonemas da amiga, não queria saber sobre a sexta-feira, não queria que nada a fizesse desistir dos seus planos.


A segunda-feira chegou. Acordou mais cedo que de costume (seria a ansiedade?), tomou um banho demorado, se perfumou, dispensou o café e foi para a escola. Gil costumava chegar um pouco mais cedo, seu pai o levava todos os dias no caminho do trabalho, então ela foi logo procurá-lo. Ele, sorridente como sempre, a acompanhou até uma escada perto da biblioteca:

-É que... Eu não sei falar de outro jeito, Gilmar. Eu te amo. - Derramou as palavras como uma cachoeira sobre o garoto.
-Mas isso eu já sabia. - Sem desfazer o sorriso, completou, agora também com um olhar convencido, Gilmar.
-Você, você... - Balbuciou, até ficar em silêncio, uma chocada Clarissa.

Seis meses após o primeiro beijo mais legal já visto (dentre todos aqueles da sessão da tarde), Clarissa estava convencida que Gilmar não sabia jogar poker. De nada servia seu full house. Ele era imune, não fazia o que ela queria, só fazia o que ele queria, e mais, fazia com que ela achasse tudo o que ele queria incrível. Foi então que o inesperado aconteceu. Tudo parecia ótimo, e Clarissa já se conformava com o fato de não conseguir que Gil realizasse seus caprichos, já estava satisfeita com as outras pessoas - ele era diferente até nisso - pensava. Mas foi quando ele chegou e não a beijou como de costume que sentiu as coisas estranhas.

-O que houve? - perguntou.
-Precisamos conversar, Lissa. - respondeu um sério e desconhecido Gilmar.
-Estou ouvindo.
-Olha, você é ótima... Gosto muito, muito mesmo de você... Mas é que a gente é muito jovem, e eu quero me divertir com meus amigos, e não quero me prender, e...

E... E... Clarissa teve sua primeira desilusão amorosa. Pobre Clarissa. Aquele menino que não jogava poker não soube valorizar seu full house. Descobriu cedo que suas cartas não eram invencíveis, eram quase invencíveis...

A incrível habilidade na conquista era o que melhor definia Gilmar, que, em seus 14 anos de pura sedução (como gostava de ressaltar), conseguia a garota que queria, sem precisar de muito esforço. Descobrira bem cedo que tinha um Straight Flush nas mãos. Ignorava, sorria, estranhava, paquerava a melhor amiga e esperava. PIMBA! Lá estava o pequeno galã vendo a ingênua garota se derreter aos seus pés. Aquelas 5 cartas, sim, eram invencíveis. O sorriso e a paquera da melhor amiga eram os ases da psicologia do amor criada por Gil (era assim que o chamavam) para fazer com que as meninas viessem até ele, era o blefe antes de baixar seu Straight Flush, e todas apostavam as fichas, e perdiam. E Gil levava sempre o prêmio máximo. Foi assim com aquela menina bonitinha da oitava série, que todos os amigos de Gilmar gostavam, e que, inexplicavelmente faziam tudo que ela queria. Ela era legal, ele até começou a gostar dela, mas desde que se recorda traz consigo o ensinamento (que não sabe nem de quem nem de onde absorvera) de que no jogo do amor, o vencedor não pode amar... E então guardou seu Straight Flush para jogar em outra mesa, mas essa é uma outra história...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Monólogo do verdadeiro eu (A poesia sem rima, sem verso e sem cara.)

Parece que estou, por ora, mais perto de mim. Às vezes me permito esquecer que sua presença me afasta do meu eu e me aproxima dessa outra pessoa que nos une, a mim e a ti. Esse elo misterioso e desconhecido que vive nas profundezas do meu ser. Ouso dizer que sequer ele se conhece. Um rosto diferente de todos que já se viram, que por jamais se defrontar a um espelho não se reconheceria nem nas mais nítidas fotografias. Ainda me questiono intermitentemente (naqueles momentos em que consigo conversar comigo, só nós duas) sobre como pude deixar essa criatura viver tanto tempo em mim sem que fôssemos formalmente apresentadas. - Quanta falta de educação - me respondo. Parece que a primeira pessoa a conhecê-la, a ver seu rosto, a sorrir para o seu sorriso foi você. A primeira e única até então. Droga! Eu queria tanto que você me conhecesse... Tem tanta coisa que eu queria te dizer, que eu queria te mostrar, que eu queria que você soubesse... Mas basta que você se aproxime e eu fujo de mim. E eu me repreendo, juro! -O que há com você? - me pergunto. Nada adianta. Eu fujo para muito distante de mim, e te deixo só com o elo. Com a pessoa misteriosa que nos liga. Ela sim é corajosa, não foge. Afinal, não conhece o próprio rosto, os próprios defeitos. Quem não se conhece não teme o desconhecido. Mas o dia está chegando em que me apresentarei a esse outro ser que vive em mim e talvez, assim, ele me ensine algumas coisas. Quem sabe ele me leve até você, já imaginou? Talvez possamos sair os três, e eu, enfim, consiga te dizer todas essas coisas que só te digo de longe; quando estou sozinha comigo; e te mostrar também o meu sorriso, te ouvir falar... Tenho certeza que o outro ser vai entender, ele me protege, ele cuida de mim. Ele não se conhece mas me conhece. Podemos ser amigos, eu e o outro ser, ele pode ser não somente o elo que me liga a você, ele pode se tornar o elo que me liga a mim. Genial! Precisamos nos conhecer urgentemente! Eu e esse outro ser, oculto, que vive em mim e que está perto de ti todas aquelas vezes em que na sua presença, eu, covarde, temerosa de qualquer coisa imprecisa,  parto em debandada.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Em alto-relevo


Abro meu mundo,
te trago,
te bebo, te beijo e te deixo entrar.
Decifro em mim mil vezes seu nome em alto-relevo,
gritando em cada extremo do meu corpo
que sou sua.
Procuro melhor,
verifico cada cicatriz deixada pela vida,
seu nome não marca meu corpo.
Seu nome marca minh'alma.
Em um relevo tão expressivo que se manifesta como se assim o fosse.
No fundo não te deixo entrar,
na verdade eu não quero te deixar sair.
Minha pele te prende em mim,
te segura e te contém,
e te acolhe, e te percebe.
Tão presente quanto ausente,
tão frio quanto quente,
tão meu quanto do mundo.
E seu.
E meu mundo escancarado pro que vem de fora,
e fechado egoistamente para o que está dentro,
para que dele nada escape,
e dentro dele você.
Gritando em alto-relevo que sou sua.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Glossofobia Súbita

Vomitava palavras. Era assim que Alice lidava com a vida desde que aprendeu sua primeira vogal. Dois ouvidos e uma só boca; é assim com todo ser humano (diz-se que é para ouvir mais e falar menos); mas com ela parecia ser o contrário, parecia ser uma overdose de contrário, uma contradição biológica. Tão inúteis quanto seu apêndice eram seus ouvidos. Alice simplesmente falava. Simplesmente e tão somente. E não ouvia. Alice não suportava ouvir. Nem mesmo músicas Alice ouvia: abria em uma aba do seu navegador de internet uma página com a letra da canção e acompanhava sonoramente o instrumental sem deixar sequer que as dissonâncias do artista fossem escutadas.

Seus amigos já se haviam cansado de tentar manter um diálogo com Alice, sempre que ela estava presente nas rodas se estabelecia um verdadeiro monólogo. Para qualquer ser menos afortunado tal singularidade poderia consolidar-se num passaporte para a segregação social. Mas Alice não era qualquer menos afortunado, havia algo em Alice que não permitia que as pessoas a segregassem, uma aura qualquer, uma luz inexplicável que tornava até engraçado o modo como ela pegava ar para pronunciar palavras mais arrastadas e em seguida atropela-las com frases (por vezes incompreensíveis) sobre outro tema alheio ao inicial. O que nem Alice nem nenhum dos seus amigos sabiam era que o destino às vezes prega peças que vão de encontro até mesmo com a natureza das pessoas, logo a natureza, algo que nos é dado desde o abrir de olhos, o compreender das cores, a primeira vogal (no caso de Alice).

(O Primeiro Sintoma)
E lá estava Alice, não me recordo agora se era um sábado ou um domingo, lembro-me apenas do sol de meio dia brilhando no cume do céu, era aquele momento do dia em que as pessoas estão mais impacientes umas com as outras que de costume, em que o estômago libera, junto com a fome, os instintos animalescos e faz todo mundo parecer apressado. No meio de todo esse imbróglio, Alice conversava alegremente com o rapaz da sorveteria que, com os braços cruzados, batia os pés na esperança da moça se calar para que ele pudesse encerrar seu expediente matutino e almoçar em paz e, enquanto olhava pela 5ª vez para o relógio, um outro cliente entrava na sorveteria:

- Ainda funcionando? - Perguntou o rapaz sorridente de cabelos ondulados.
- Só por mais 5 minutos. - Respondeu o impaciente (já irritadiço) sorveteiro.
- Exatamente o tempo que eu preciso... - E se pôs à frente de Alice buscando o pote de sorvete de passas - ... com licença, moça. Desculpe interromper sua conversa que parecia tão agradável, mas a necessidade de me refrescar já está me deixando mal-educado.

E eis que se manifesta o primeiro sintoma. Veio rápido, quase imperceptível, por menos de um minuto Alice emudeceu. Faltaram-lhe as palavras do momento em que o rapaz entrara até aquele instante em que lhe dirigia um sorriso tão quente quanto aquele sol que iluminava seu rosto. Calou. E ninguém que conhecia Alice acreditaria instantaneamente nessa história, não quando a sua mania quase vital de vomitar as palavras saltava aos olhos até mesmo daquele recém conhecido sorveteiro.

Alice agora buscava algo que antes lhe saia tão naturalmente quanto o respirar, buscava algo para falar, para responder, balbuciou quase que inaudivelmente:

- A-A-Alice.
- Como? - Perguntou o rapaz desconsertado.
- Meu nome é Alice. - recuperando-se do lapso como num estampido.

(O Segundo Sintoma)
Frederico (o rapaz de sorriso largo e cabelo ondulado da sorveteria), passeava com sua falante namorada Alice por uma das movimentadas praças da cidade. Ele sorria e passava os dedos compridos nos cabelos enquanto esperava uma oportunidade entre as puxadas de ar da sua pequena para poder falar o que há tanto tempo vinha maquinando. Esperou cerca de 20 minutos pacientemente, mas nesse dia ela estava especialmente falante (especialmente radiante, como ele costumava pensar), e não deixara sequer uma brecha para o pronunciamento do rapaz. Foi então que, bem no meio  do interminável discurso acerca das pessoas que caminham mudas em um dia lindo como aquele,  resolveu interromper:

-Casa comigo. - proferiu num rompante, no tom de quase aconselhamento paterno que lhe era peculiar.

E emergiu assim o segundo sintoma. Um frio quente percorreu o corpo de Alice, que pela segunda vez em sua vida emudeceu. Buscou palavras com tanta força que saíram lágrimas dos seus olhos. Buscou todas as palavras que conhecia, de todos os livros que ainda leria, de todas as músicas que jamais escutara, de todos os sonhos que jamais tivera, e, por fim, desistiu. Não conseguiria falar, não ali, não diante daquele sorriso. Balançou a cabeça positivamente. Era o máximo que conseguiria fazer. Esse sintoma foi ainda mais forte, depois de quase 5 anos ele voltou, o silêncio, o léxico mudo, o dicionário de gestos que tanto incomodava Alice, ele estava de volta.

(O Desfalecimento)
Os metais sempre soam como prenúncio de alguma solenidade. Talvez a chegada de descendentes monarcas, quem sabe o velório de algum militar ou o casamento de pessoas comumente interessantes. Nesse caso estamos diante da terceira opção. O cenário é composto por flores naturais brancas, tias chorosas com seus lenços nos narizes já vermelhos pelo atrito e crianças ansiosas para o fim de todo aquele inexplicável ritual cansativo de senta e levanta. Todas as atenções estão voltadas para a noiva. O noivo está incomumente calmo (talvez por isso combinassem tanto, toda aquela história de opostos...), parado no altar, flor na lapela, sorriso no rosto e brilho no olhar, olhar esse que não saía da entrada da igreja. Então ela chegou. Vinha conversando no ouvido do seu pai, cuja fisionomia oscilava entre orgulho, tédio e impaciência. Nesse momento alguns tios mais salientes esboçaram sorrisos maliciosos no canto das bocas.

Ajoelhou-se. Sabia que teria que se calar. Oh! Céus, nunca ficara tanto tempo sem falar, nem em seu segundo sintoma. Quanto mais o tempo passava, alguns amigos se decepcionavam ao ver esgotado o seu palpite para o bolão informal promovido por Zequinha, amigo do noivo, onde quem acertasse, aproximadamente, a duração do silêncio da noiva no altar levaria o valor total arrecadado. E os minutos iam passando, e com eles Alice experimentara uma sensação até então jamais sentida: ela estava ouvindo. Ouvia as pessoas murmurando, as tias chorando, o padre com sua interminável ladainha, as crianças reclamando da demora e o bater de pés do noivo, demonstrando sutilmente que o nervoso também o atingira.  E eis que chega o tão esperado momento.

-Aceita Frederico como seu legítimo esposo? - questionou quase retoricamente o padre com semblante inexpressivo.

E então o desfalecimento. Já era de se esperar. Não é uma doença assintomática, ora! Vieram os sinais. Espaçadamente, sim, mas vieram. "As pessoas falam demais e não os percebem" - disse o doutor - "O quadro é grave" - concluiu. Não era um silêncio comum, era um silêncio desesperado, um silêncio dolorido, um silêncio aprisionador. Uma glossofobia súbita atacou Alice, que nada disse, que nada fez, que nada podia fazer. Glossofobia Súbita. E não haviam mais palavras na boca de Alice. E Alice, que sempre falara tanto sem nunca ser escutada como gostaria, experimentava pela primeira vez a sensação de não falar, e ver no semblante aflito das pessoas a expectativa de que uma, somente uma palavra, uma palavra que mudaria o rumo de toda a sua vida, fosse vomitada de sua boca como todas as outras de outrora. E Alice olhou ao redor e, pela primeira vez, se sentiu notada. 

- Maldita glossofobia - pensava o não mais calmo Frederico
- Bendita glossofobia - dizia o sorriso quase Da Vinciano estampado no rosto de Alice.

Bendita glossofobia...





terça-feira, 23 de agosto de 2011

Post Duplo


Me traz mais um livro, por favor.
Hoje quero passar a página de outras vidas,
adiar a leitura do meu epílogo
e me perder em histórias alheias.

-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-

Guarda, menina.
Guarda em você tudo que é desnecessário.
Guarda bem guardado,
guarda e nunca mais procura
até que se perca nesse infinito que há dentro de ti.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O avesso do Futuro do Pretérito

Escassos resquícios de outrora
me fazem ainda lembrar do que fui,
e do que um dia, em minha adolescidade, imaginei ser eu hoje.
Um retrato mal-falado de um ser
que não me descreve nem nos traços mais genéricos, 
sem os moldes que a vida faz,
as pinceladas do destino,
as desventuras do acaso.
Eis que promovo o encontro do passado com o hodierno
e pasmo: eles não se reconhecem.



terça-feira, 19 de julho de 2011

Paixão, pasión, passion, passione.

Para a Wikipedia cabe na seguinte definição: 

"A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio."

Ainda bem que sempre me disseram para não confiar em tudo que estivesse na internet. Digo que discordo completamente do que está posto. As palavras tem força, o significado delas pode fazer com que sejam atraídos sentimentos bons ou ruins. Se você pensar na paixão pela perspectiva Wikipediana (neologismo rules), você se sentirá um doente, um louco, em crise existencial, tentando expurgar de si mesmo esse sentimento que pode ser tão bonito quanto efêmero.
As pessoas, às vezes, me dizem que suas vidas estão ruins, que estão cheias de problemas e coisa e tal, no que eu costumo responder que tudo no mundo tem o lado bom e o lado ruim, e esses lados nunca vão mudar, é da natureza de cada coisa, assim como a Lua. Ela é a mesma Lua, sempre e em qualquer lugar, mas a depender da perspectiva do observador serão vistas Luas diferentes, minguantes, cheias, crescentes... Os problemas de um, podem ser vistos como a solução de outros. Tudo é uma questão de perspectiva. 
Eu vejo a paixão por uma perspectiva romântica. Muito mais interessante que essa patologia que a ciência deseja criar (e lá vem a ciência mais uma vez tentando explicar o que seria melhor que só fosse sentido). Eu vejo a paixão como uma coisa muito boa. A paixão significa encontrar em algo ou alguém aquilo que te faz bem, que te deixa alegre, que te faz querer mais. Uma fonte (in?) esgotável de prazer. A paixão é diferente do amor, o amor é consistente, é cúmplice, é segurança, é carinho. O amor se constrói. O amor é terra. A paixão é fogo. E tal como fogo precisa de oxigênio para crescer. Precisa ser livre, intensa, forte, arder. Precisa de impulsividade, de insegurança, de coragem e de vontade. 
Só quem não gosta de experimentar, de descobrir, de aproveitar o mundo é que pode dizer que a paixão é uma patologia. A paixão é uma oportunidade. Uma chance única de se permitir sentir algo que pode ser muito proveitoso e gostoso. Mas, como tudo nessa vida, é muito importante saber lidar com ela, para que não se torne essa patologia que a ciência insiste em transformar o sentimento. Eu tive muitas paixões ao longo desses poucos 21 anos de idade, e tenho tentado lidar bem com elas. As primeiras foram avassaladoras, eu diria até inquietantes, vulcânicas, faraônicas. Hoje em dia tento trabalhar o psicológico para ter mais calma. 
Paixões vem e vão, e se a gente passar muito tempo se preocupando a gente deixa é de aproveitar o que de bom elas tem para nos oferecer. Me apaixono diariamente por pessoas, por coisas, por músicas, por textos, por imagens... Procuro aproveitar o que cada paixão me oferece, e oferecer a ela o que de melhor eu puder. E assim vamos formando esse mosaico da vida, nos apaixonando e nos deixando apaixonar, curtindo essa vontade de conhecer, de saber, de gostar, alimentando esse fogo com liberdade, com oxigênio, com espaço para todas as outras coisas. E só assim vamos formando nossa personalidade, sem esquecer da gente, sem esquecer que nenhuma paixão completa, nenhuma paixão preenche, nenhuma paixão te define. As paixões acrescentam. E quando isso ficar firme na cabeça de cada um, quando a individualidade, as vontades, os limites estiverem bem fixados, aí sim, as paixões não serão vistas como patologias, e sim como dádivas.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sobre política e políticos



Quando a gente pensa que já viu e passou por tudo em matéria de política, vem uma semana como essa e prova o contrário:
Primeiro foi aprovado o novo Código Florestal. A bancada ruralista (leia-se Kátia Motoserra Abreu, Ronaldo Caiado, entre outros) se esforçou ao máximo pela aprovação,  inclusive trazendo populares - que sequer faziam ideia do que estava em jogo - para fazer coro à grande (tragi)comédia farsesca que foi montada. Farsesca, sim. Acreditem! O relator do tal projeto foi o deputado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil, o partido de João Amazonas, da guerrilha do Araguaia e que funcionava na clandestindade durante a Ditadura Militar, agora servindo aos interesses dos filhotes da ditadura, como o deputado Ronaldo Caiado, ex presidente da reacionária UDR. O projeto aprovado na câmara dos deputados visa atendeder apenas aos interesses do agronegócio, pouco se discutindo questões relativas à agricultura familiar. Ainda tem pontos absurdos, como a emenda 164 que confere aos estados a responsabilidade para administrar políticas ambientais, o que segundo especialistas, pode ter como consequência indireta  a anistia aos desmatadores. Votaram a favor do código as bancadas do PMDB, PSDB, DEM, PPS, PCdoB, PR, PP e 35 deputados do PT. Na oposição estiveram o PV, PSOL e uma parte da bancada petista. Durante a campanha, Dilma assumiu o compromisso de não conceder anistia aos desmatadores e tem sinalizado que se o projeto não for alterado no senado, utilizará o seu poder de veto.
***
Em decorrência do crescente surto de bullyng e violência contra homossexuais em todo o país, o MEC decidiu encampar uma campanha contra à homofobia. Entre outras ações, foram confeccionadas cartilhas e vídeos anti-homofobia que seriam distribuídos nas escolas públicas brasileiras. Figuras como o deputado Jair Bolsanaro (PP-RJ),aquele que considera que os negros são pessoas promíscuas, foi o primeiro a histrionicamente protestar contra o que ele definiu como kit gay, tendo seu paroxismo no bate boca com a senadora Marinor Brito (PSOL-PA). Até aí tudo bem, afinal Bolsanaro é um sujeito tão repugnante e caricato que suas opiniões já nem causam tanto espanto ou ressonância na opinião pública, apesar de ter sido eleito por mais de cento e vinte mil votos. Eis que muito mais  influentes do que qualquer Bolsanaro da vida, surgem as bancadas católicas e evangélicas que através de  verdadeira chantagem política com o governo conseguiram com que a presidenta barrase a distribuição do material. A Dilma que cedeu é a mesma  que sofreu patrulhamento religioso durante a campanha, com direito à padres clamando aos seus fiéis que não votassem na "abortista, atéia", e aos pastores evangélicos que difundiam através de seus cultos e programas telivisivos que se eleita fecharia as igrejas e proibiria o direito ao livre culto. 

Votei, militei, continuando apoiando e acreditando em Dilma, não apenas por acreditar no projeto político inciado por Lula, que claramante melhorou a vida de milhões de brasileiros e por acreditar na capacidade gerencial e preparo político da ex-ministra, mas também como resposta à campanha obscurantista do candidato tucano, que numa tentativa desesperada de vencer as eleições apostou na despolitização da disputa eleitoral, contribuindo para um enorme retrocesso do país. Cujos efeitos sentimos agora, com as bancadas religiosas querendo ditar o destino de um país laico.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Aqui Jaz a PALAVRA...

A palavra... O que seria então de nós sem essa coisa tão simples e tão abstrata?! O que seria do ser humano sem a palavra?! Eu tenho um carinho especial pelas palavras. Elas me deixam expressar meus sentimentos quase como se eu estivesse compondo. Na verdade é uma composição, uma composição sem acordes, sem tempos, sem rimas, sem compassos, sem instrumentos. Gosto de dar emoção às palavras. Gosto que elas passem uma verdade limpa sobre mim, ainda que às vezes essa verdade pareça maior do que realmente é, mas isso é só um pouco da força das palavras. É preciso sentir grande pra interpretar grande. Se o peso das minhas palavras soa para ti maior do que eu realmente quis dizer, não é minha culpa, é culpa sua, que se deixou levar por esses caminhos da interpretação. Acho que nasci fora de época. Como meu grande amigo Murilo Hamati, que aqui comigo usa e abusa das palavras, costuma dizer: deveríamos ter vivido uma outra geração. Não admito a banalização da palavra, a palavra tem que ser bem usada. Quem usa as palavras com emoção hoje em dia ou é poeta, ou louco, ou brega. Chamem de brega, eu prefiro romântico. E isso nada tem a ver com fazer do amor a cura de todas as doenças e o veneno de todas as mortes... Não, isso tem a ver com sentir e se permitir demonstrar. No mundo banal do AGIR se tem esquecido do SENTIR, do fazer sentir, do saber expressar o sentir. Na falta de saber se expressar é que se age, se age impulsivamente, e se magoa. As palavras são o caminho mais longo e mais gostoso para se chegar ao agir, e quando se age sabendo o que se quer é tudo muito mais forte, mais belo, mais limpo. Porque deixam atrás de si um caminho de palavras, de palavras que puxadas uma a uma te dão a certeza de onde chegou e te mostram o caminho de volta, caso se arrependa. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mas que juventude é essa?

Há alguns dias li um artigo da psicóloga Dulce Citrelli na revista Carta Capital, onde ela discorre sobre a formação coletiva do preconceito.  A autora cita alguns casos emblemáticos e que foram fortemente noticiados pela imprensa brasileira. Desde a estudante do curso de turismo em uma universidade paulista, Geyse Arruda que sofreu verdadeiro linchamento porque seus puritanos colegas consideraram o seu agora famoso vestido rosa inapropriado para ir à universidade – fato que catapultou a carreira da moça no show business – até o índio pataxó Galdino,  assassinado em 1997 por jovens da elite de Brasília que atearam fogo enquanto ele dormia em um ponto de ônibus da capital brasileira. Tem-se ainda os ataques proferidos por Mayana Petruso, 21 anos, estudante de Direito, que através do twitter lançou a campanha para o “afogamento de nordestinos”, logo após ser confirmada a vitória no segundo turno da candidata petista Dilma Rousseff.

O que mais me chamou a atenção em todos esses atos criminosos – e não esquecendo da onda de ataques homofóbicos em todo o país – é que todos foram praticados por jovens oriundos das classes médias brasileiras, estudantes universitários e que vivem na “era da informação”, propiciado pela revolução da internet e suas redes sociais. Preconceitos são abomináveis sejam provenientes de qualquer classe social, gênero, etnia, mas através de um exercício de flexibilização do pensamento, é possível entender que pessoas mais velhas, em sua maioria que não tiveram oportunidade de estudos, que viveram boa parte de suas vidas em uma época obscurantista em que pululavam tabus que não podiam ser debatidos com normalidade, apresentem certos resquícios de preconceito.

É deveras desalentador assistir à juventude que outrora foi motor de toda sorte de revoluções sejam elas sexuais, comportamentais e políticas, ser hoje a mesma que materializa a violência em razão do preconceito. Parafraseio as palavras de Caetano Veloso quando nos famosos festivais de música no final de década de 60, foi vaiado pela plateia composta majoritariamente por jovens que reagiram contra a inovadora estética sonora proposta pelo compositor através da Tropicália: “Então é essa a juventude que quer mudar o mundo?”

Brindemos!

"O materialismo é árido como o deserto, e escuro como um túmulo! A nós frontes queimadas pelo mormaço do sol da vida, a nós sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas crianças frias! A nós os sonhos do espiritualismo!" - Álvares de Azevedo



E é desta forma que inicio essa parceria há tanto adiada... São praticamente 10 anos de muitos planos e poucas ações (poucas, porém efetivas), e então, como forma de criar um registro de tantos planos e idéias comumente compartilhadas é que decidimos criar este espaço, posto que as palavras tem mais força se forem registradas, se forem publicadas, se forem lidas, não importa se por 1 ou 1.000.000 de pessoas. 

Vamos fazer aos poucos uma revolução, vamos libertar nosso Ego, deixá-lo satisfazer nosso Id e esquecer o nosso Superego, ainda que por um momento, para que possamos por fim conhecer a nós mesmos, em nossas vontades, em nossos desejos mais secretos escondidos pela máscara do convencional, privados da luz, esperando o momento certo para serem expelidos de nós como lavas de um vulcão, devastando tudo e todos ao nosso redor... Antes disso, deixemos de lado as regras da vida, deixemos de lado conceitos defasados e controversos acerca das possibilidades do ser, deixemos que essa lava saia aos poucos de nós, para preparar o mundo para toda nossa chama interior, e então quem sabe, ele se acostume tanto conosco, que a liberdade do eu não mais o devaste... 

Sejamos, porque a vida é breve.