quinta-feira, 21 de julho de 2011

O avesso do Futuro do Pretérito

Escassos resquícios de outrora
me fazem ainda lembrar do que fui,
e do que um dia, em minha adolescidade, imaginei ser eu hoje.
Um retrato mal-falado de um ser
que não me descreve nem nos traços mais genéricos, 
sem os moldes que a vida faz,
as pinceladas do destino,
as desventuras do acaso.
Eis que promovo o encontro do passado com o hodierno
e pasmo: eles não se reconhecem.



terça-feira, 19 de julho de 2011

Paixão, pasión, passion, passione.

Para a Wikipedia cabe na seguinte definição: 

"A paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação dificil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio."

Ainda bem que sempre me disseram para não confiar em tudo que estivesse na internet. Digo que discordo completamente do que está posto. As palavras tem força, o significado delas pode fazer com que sejam atraídos sentimentos bons ou ruins. Se você pensar na paixão pela perspectiva Wikipediana (neologismo rules), você se sentirá um doente, um louco, em crise existencial, tentando expurgar de si mesmo esse sentimento que pode ser tão bonito quanto efêmero.
As pessoas, às vezes, me dizem que suas vidas estão ruins, que estão cheias de problemas e coisa e tal, no que eu costumo responder que tudo no mundo tem o lado bom e o lado ruim, e esses lados nunca vão mudar, é da natureza de cada coisa, assim como a Lua. Ela é a mesma Lua, sempre e em qualquer lugar, mas a depender da perspectiva do observador serão vistas Luas diferentes, minguantes, cheias, crescentes... Os problemas de um, podem ser vistos como a solução de outros. Tudo é uma questão de perspectiva. 
Eu vejo a paixão por uma perspectiva romântica. Muito mais interessante que essa patologia que a ciência deseja criar (e lá vem a ciência mais uma vez tentando explicar o que seria melhor que só fosse sentido). Eu vejo a paixão como uma coisa muito boa. A paixão significa encontrar em algo ou alguém aquilo que te faz bem, que te deixa alegre, que te faz querer mais. Uma fonte (in?) esgotável de prazer. A paixão é diferente do amor, o amor é consistente, é cúmplice, é segurança, é carinho. O amor se constrói. O amor é terra. A paixão é fogo. E tal como fogo precisa de oxigênio para crescer. Precisa ser livre, intensa, forte, arder. Precisa de impulsividade, de insegurança, de coragem e de vontade. 
Só quem não gosta de experimentar, de descobrir, de aproveitar o mundo é que pode dizer que a paixão é uma patologia. A paixão é uma oportunidade. Uma chance única de se permitir sentir algo que pode ser muito proveitoso e gostoso. Mas, como tudo nessa vida, é muito importante saber lidar com ela, para que não se torne essa patologia que a ciência insiste em transformar o sentimento. Eu tive muitas paixões ao longo desses poucos 21 anos de idade, e tenho tentado lidar bem com elas. As primeiras foram avassaladoras, eu diria até inquietantes, vulcânicas, faraônicas. Hoje em dia tento trabalhar o psicológico para ter mais calma. 
Paixões vem e vão, e se a gente passar muito tempo se preocupando a gente deixa é de aproveitar o que de bom elas tem para nos oferecer. Me apaixono diariamente por pessoas, por coisas, por músicas, por textos, por imagens... Procuro aproveitar o que cada paixão me oferece, e oferecer a ela o que de melhor eu puder. E assim vamos formando esse mosaico da vida, nos apaixonando e nos deixando apaixonar, curtindo essa vontade de conhecer, de saber, de gostar, alimentando esse fogo com liberdade, com oxigênio, com espaço para todas as outras coisas. E só assim vamos formando nossa personalidade, sem esquecer da gente, sem esquecer que nenhuma paixão completa, nenhuma paixão preenche, nenhuma paixão te define. As paixões acrescentam. E quando isso ficar firme na cabeça de cada um, quando a individualidade, as vontades, os limites estiverem bem fixados, aí sim, as paixões não serão vistas como patologias, e sim como dádivas.