quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sobre política e políticos



Quando a gente pensa que já viu e passou por tudo em matéria de política, vem uma semana como essa e prova o contrário:
Primeiro foi aprovado o novo Código Florestal. A bancada ruralista (leia-se Kátia Motoserra Abreu, Ronaldo Caiado, entre outros) se esforçou ao máximo pela aprovação,  inclusive trazendo populares - que sequer faziam ideia do que estava em jogo - para fazer coro à grande (tragi)comédia farsesca que foi montada. Farsesca, sim. Acreditem! O relator do tal projeto foi o deputado Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil, o partido de João Amazonas, da guerrilha do Araguaia e que funcionava na clandestindade durante a Ditadura Militar, agora servindo aos interesses dos filhotes da ditadura, como o deputado Ronaldo Caiado, ex presidente da reacionária UDR. O projeto aprovado na câmara dos deputados visa atendeder apenas aos interesses do agronegócio, pouco se discutindo questões relativas à agricultura familiar. Ainda tem pontos absurdos, como a emenda 164 que confere aos estados a responsabilidade para administrar políticas ambientais, o que segundo especialistas, pode ter como consequência indireta  a anistia aos desmatadores. Votaram a favor do código as bancadas do PMDB, PSDB, DEM, PPS, PCdoB, PR, PP e 35 deputados do PT. Na oposição estiveram o PV, PSOL e uma parte da bancada petista. Durante a campanha, Dilma assumiu o compromisso de não conceder anistia aos desmatadores e tem sinalizado que se o projeto não for alterado no senado, utilizará o seu poder de veto.
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Em decorrência do crescente surto de bullyng e violência contra homossexuais em todo o país, o MEC decidiu encampar uma campanha contra à homofobia. Entre outras ações, foram confeccionadas cartilhas e vídeos anti-homofobia que seriam distribuídos nas escolas públicas brasileiras. Figuras como o deputado Jair Bolsanaro (PP-RJ),aquele que considera que os negros são pessoas promíscuas, foi o primeiro a histrionicamente protestar contra o que ele definiu como kit gay, tendo seu paroxismo no bate boca com a senadora Marinor Brito (PSOL-PA). Até aí tudo bem, afinal Bolsanaro é um sujeito tão repugnante e caricato que suas opiniões já nem causam tanto espanto ou ressonância na opinião pública, apesar de ter sido eleito por mais de cento e vinte mil votos. Eis que muito mais  influentes do que qualquer Bolsanaro da vida, surgem as bancadas católicas e evangélicas que através de  verdadeira chantagem política com o governo conseguiram com que a presidenta barrase a distribuição do material. A Dilma que cedeu é a mesma  que sofreu patrulhamento religioso durante a campanha, com direito à padres clamando aos seus fiéis que não votassem na "abortista, atéia", e aos pastores evangélicos que difundiam através de seus cultos e programas telivisivos que se eleita fecharia as igrejas e proibiria o direito ao livre culto. 

Votei, militei, continuando apoiando e acreditando em Dilma, não apenas por acreditar no projeto político inciado por Lula, que claramante melhorou a vida de milhões de brasileiros e por acreditar na capacidade gerencial e preparo político da ex-ministra, mas também como resposta à campanha obscurantista do candidato tucano, que numa tentativa desesperada de vencer as eleições apostou na despolitização da disputa eleitoral, contribuindo para um enorme retrocesso do país. Cujos efeitos sentimos agora, com as bancadas religiosas querendo ditar o destino de um país laico.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Aqui Jaz a PALAVRA...

A palavra... O que seria então de nós sem essa coisa tão simples e tão abstrata?! O que seria do ser humano sem a palavra?! Eu tenho um carinho especial pelas palavras. Elas me deixam expressar meus sentimentos quase como se eu estivesse compondo. Na verdade é uma composição, uma composição sem acordes, sem tempos, sem rimas, sem compassos, sem instrumentos. Gosto de dar emoção às palavras. Gosto que elas passem uma verdade limpa sobre mim, ainda que às vezes essa verdade pareça maior do que realmente é, mas isso é só um pouco da força das palavras. É preciso sentir grande pra interpretar grande. Se o peso das minhas palavras soa para ti maior do que eu realmente quis dizer, não é minha culpa, é culpa sua, que se deixou levar por esses caminhos da interpretação. Acho que nasci fora de época. Como meu grande amigo Murilo Hamati, que aqui comigo usa e abusa das palavras, costuma dizer: deveríamos ter vivido uma outra geração. Não admito a banalização da palavra, a palavra tem que ser bem usada. Quem usa as palavras com emoção hoje em dia ou é poeta, ou louco, ou brega. Chamem de brega, eu prefiro romântico. E isso nada tem a ver com fazer do amor a cura de todas as doenças e o veneno de todas as mortes... Não, isso tem a ver com sentir e se permitir demonstrar. No mundo banal do AGIR se tem esquecido do SENTIR, do fazer sentir, do saber expressar o sentir. Na falta de saber se expressar é que se age, se age impulsivamente, e se magoa. As palavras são o caminho mais longo e mais gostoso para se chegar ao agir, e quando se age sabendo o que se quer é tudo muito mais forte, mais belo, mais limpo. Porque deixam atrás de si um caminho de palavras, de palavras que puxadas uma a uma te dão a certeza de onde chegou e te mostram o caminho de volta, caso se arrependa. 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mas que juventude é essa?

Há alguns dias li um artigo da psicóloga Dulce Citrelli na revista Carta Capital, onde ela discorre sobre a formação coletiva do preconceito.  A autora cita alguns casos emblemáticos e que foram fortemente noticiados pela imprensa brasileira. Desde a estudante do curso de turismo em uma universidade paulista, Geyse Arruda que sofreu verdadeiro linchamento porque seus puritanos colegas consideraram o seu agora famoso vestido rosa inapropriado para ir à universidade – fato que catapultou a carreira da moça no show business – até o índio pataxó Galdino,  assassinado em 1997 por jovens da elite de Brasília que atearam fogo enquanto ele dormia em um ponto de ônibus da capital brasileira. Tem-se ainda os ataques proferidos por Mayana Petruso, 21 anos, estudante de Direito, que através do twitter lançou a campanha para o “afogamento de nordestinos”, logo após ser confirmada a vitória no segundo turno da candidata petista Dilma Rousseff.

O que mais me chamou a atenção em todos esses atos criminosos – e não esquecendo da onda de ataques homofóbicos em todo o país – é que todos foram praticados por jovens oriundos das classes médias brasileiras, estudantes universitários e que vivem na “era da informação”, propiciado pela revolução da internet e suas redes sociais. Preconceitos são abomináveis sejam provenientes de qualquer classe social, gênero, etnia, mas através de um exercício de flexibilização do pensamento, é possível entender que pessoas mais velhas, em sua maioria que não tiveram oportunidade de estudos, que viveram boa parte de suas vidas em uma época obscurantista em que pululavam tabus que não podiam ser debatidos com normalidade, apresentem certos resquícios de preconceito.

É deveras desalentador assistir à juventude que outrora foi motor de toda sorte de revoluções sejam elas sexuais, comportamentais e políticas, ser hoje a mesma que materializa a violência em razão do preconceito. Parafraseio as palavras de Caetano Veloso quando nos famosos festivais de música no final de década de 60, foi vaiado pela plateia composta majoritariamente por jovens que reagiram contra a inovadora estética sonora proposta pelo compositor através da Tropicália: “Então é essa a juventude que quer mudar o mundo?”

Brindemos!

"O materialismo é árido como o deserto, e escuro como um túmulo! A nós frontes queimadas pelo mormaço do sol da vida, a nós sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas crianças frias! A nós os sonhos do espiritualismo!" - Álvares de Azevedo



E é desta forma que inicio essa parceria há tanto adiada... São praticamente 10 anos de muitos planos e poucas ações (poucas, porém efetivas), e então, como forma de criar um registro de tantos planos e idéias comumente compartilhadas é que decidimos criar este espaço, posto que as palavras tem mais força se forem registradas, se forem publicadas, se forem lidas, não importa se por 1 ou 1.000.000 de pessoas. 

Vamos fazer aos poucos uma revolução, vamos libertar nosso Ego, deixá-lo satisfazer nosso Id e esquecer o nosso Superego, ainda que por um momento, para que possamos por fim conhecer a nós mesmos, em nossas vontades, em nossos desejos mais secretos escondidos pela máscara do convencional, privados da luz, esperando o momento certo para serem expelidos de nós como lavas de um vulcão, devastando tudo e todos ao nosso redor... Antes disso, deixemos de lado as regras da vida, deixemos de lado conceitos defasados e controversos acerca das possibilidades do ser, deixemos que essa lava saia aos poucos de nós, para preparar o mundo para toda nossa chama interior, e então quem sabe, ele se acostume tanto conosco, que a liberdade do eu não mais o devaste... 

Sejamos, porque a vida é breve.