quinta-feira, 19 de maio de 2011

Mas que juventude é essa?

Há alguns dias li um artigo da psicóloga Dulce Citrelli na revista Carta Capital, onde ela discorre sobre a formação coletiva do preconceito.  A autora cita alguns casos emblemáticos e que foram fortemente noticiados pela imprensa brasileira. Desde a estudante do curso de turismo em uma universidade paulista, Geyse Arruda que sofreu verdadeiro linchamento porque seus puritanos colegas consideraram o seu agora famoso vestido rosa inapropriado para ir à universidade – fato que catapultou a carreira da moça no show business – até o índio pataxó Galdino,  assassinado em 1997 por jovens da elite de Brasília que atearam fogo enquanto ele dormia em um ponto de ônibus da capital brasileira. Tem-se ainda os ataques proferidos por Mayana Petruso, 21 anos, estudante de Direito, que através do twitter lançou a campanha para o “afogamento de nordestinos”, logo após ser confirmada a vitória no segundo turno da candidata petista Dilma Rousseff.

O que mais me chamou a atenção em todos esses atos criminosos – e não esquecendo da onda de ataques homofóbicos em todo o país – é que todos foram praticados por jovens oriundos das classes médias brasileiras, estudantes universitários e que vivem na “era da informação”, propiciado pela revolução da internet e suas redes sociais. Preconceitos são abomináveis sejam provenientes de qualquer classe social, gênero, etnia, mas através de um exercício de flexibilização do pensamento, é possível entender que pessoas mais velhas, em sua maioria que não tiveram oportunidade de estudos, que viveram boa parte de suas vidas em uma época obscurantista em que pululavam tabus que não podiam ser debatidos com normalidade, apresentem certos resquícios de preconceito.

É deveras desalentador assistir à juventude que outrora foi motor de toda sorte de revoluções sejam elas sexuais, comportamentais e políticas, ser hoje a mesma que materializa a violência em razão do preconceito. Parafraseio as palavras de Caetano Veloso quando nos famosos festivais de música no final de década de 60, foi vaiado pela plateia composta majoritariamente por jovens que reagiram contra a inovadora estética sonora proposta pelo compositor através da Tropicália: “Então é essa a juventude que quer mudar o mundo?”

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