Poucos aprendizados são tão
importantes para o ser humano quanto o aprendizado do não dizer. Crescemos num
mundo onde a imediaticidade e a praticidade ocupam pilares fundamentais do
famigerado progresso. Em meio a tanta pressa e tanto saber, crianças falam cada
vez mais cedo; e pedem; e gritam; e esperneiam; não aprendendo – às vezes nunca
aprendem – a ouvir. A sentir. A explorar todos os 5 sentidos natos, a
desenvolver os seus instintos de animal, seu sexto sentido. Aprender o silêncio
transforma a vida de uma pessoa. É ele o mais temido dos argumentos, o mais
misterioso, perturbador.
Durante anos nos é ensinado a questionar, a perguntar,
brigar face às injustiças da vida, defender nosso ponto de vista, vencer pelo
discurso. Demagogos, sofistas, estelionatários. O mundo aberto para aqueles com
o melhor domínio da palavra. Com o tempo passamos por experiências, situações
de extrema tensão, de sofrimento, de dúvidas, ocasiões em que o silêncio se faz
necessário para que possamos estar apenas conosco. Conhecemos o colo amigo que
não precisa dizer uma só palavra para acalmar com um afago; conhecemos o olhar
do amor, que aquece o corpo por inteiro em instantes; conhecemos o não saber o
que dizer, o balbuciar e o abraço.
É no silêncio que se encontram as maiores respostas
da vida. Mas, como eu já disse, o silêncio é um argumento misterioso e
assustador. Tenho passado nos últimos dias por situações em que vejo a
necessidade de silenciar. Talvez seja apenas uma preguiça de me aborrecer –
coisa que também é de fundamental importância que aprendamos o quanto antes –
talvez seja apenas a compreensão de que algumas coisas não devem ser ditas.
Tenho experimentado o silêncio com amigos, com familiares, e até comigo mesma –
é importante parar de reclamar e apenas olhar ao redor- ; a cada dia descubro
um novo sabor. Nesse momento experimento o sabor da dúvida quando, ao me flagrar
diante de uma injustiça, me vejo silente.
Me parece que começo a compreender não
apenas o significado, mas a significância da confiança. Entre amigos as injustiças
não precisam ser discutidas, resolvidas. Amigos silenciam na certeza da lisura
e qualquer explicação é vã e dispensável. Aí encaixa-se o embate: o silêncio se
impõe, mas como argumento feroz pode significar a confiança na impossibilidade
da existência do ato injusto ou, em contrapartida, a plena convicção de que a
injustiça não o é. Nesse ponto paira o sabor da dúvida que aprecio em meus
lábios. Sim, aprecio, na certeza de que essa situação, ainda que hoje conflituosa, me fará amanhã um alguém melhor. Sinal que estou viva, que estou amadurecendo e sempre estarei. Me manterei silente e a seleção natural se fará. É parte da formação do nosso espírito saber reconhecer aqueles em quem devemos depositar a nossa confiança, aqueles que merecem o nosso silêncio da certeza do "é mentira", "é uma injustiça", "sequer preciso perguntar". Enquanto isso aproveito o sabor da dúvida do silêncio e vou aprendendo a paciência... Na contramão de Chico: eu quero mais é esse cálice.
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